O que significa ter um Design Intuitivo?

Ana Steinbach
4 min readJul 23, 2020

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Qual a quente e qual é a fria?

Vamos imaginar um cenário comum: você experimenta um aplicativo que é fácil de usar, onde consegue mexer sem nenhuma dificuldade. Você elogia, fica feliz e chama o aplicativo de intuitivo.

Mesmo sendo fácil para você, para o seu amigo (mesma idade, mesma empresa), a experiência já não é a mesma. Ele tem dificuldade de encontrar o que é óbvio para você e prefere outro concorrente que faz basicamente a mesma coisa, mas de outro jeito.

Então, se para você é intuitivo e para o seu amigo não, qual dos dois aplicativos é intuitivo? O que caracteriza uma interface intuitiva? Como reproduzir essa qualidade nos produtos que desenvolvemos?

Bom, não existe uma definição padronizada do que é intuitivo, principalmente em termos de design.

Mas existem algumas definições que vão te ajudar a entender melhor o que isso significa, como abordar discussões em casos de divergência, e também porque saber quem é o seu público é tão importante.

Definindo o que é um Design Intuitivo

Um grupo de pesquisa chamado Intuitive Use of User Interfaces defende que intuitivo não é uma característica do design em si, mas uma parte do processo da interação entre um usuário específico e um produto.

O autor Everett, do livro Intuitive Design, diz algo parecido: intuitivo é algo que é imediatamente autoexplicativo para seu público-alvo, quando os usuários conseguem concluir tarefas com sucesso na sua primeira tentativa sem cometer erros.

Isso quer dizer que para uma pessoa um design pode ser intuitivo e para outra não. Especialmente, pode não ser intuitivo para você, mas para o seu usuário, sim.

Então a questão muda de perspectiva. O que deve se perguntar é para quem você está fazendo esse produto. É para pesquisadores? É para estudantes de medicina? É para pessoas que mal usam o telefone?

Todos esses fatores devem ser levados em conta para projetar algo intuitivo. Sobretudo, para quem devemos perguntar se a interface faz sentido ou não.

Digo isso porque já vi muita discussão entre designers, POs e desenvolvedores por não concordarem com uma alteração de tela, já que o intuitivo de cada um significava coisas diferentes.

Escolha um público e entenda seu contexto

Usuários sentirão que uma interface é intuitiva quando ela usa padrões que já são conhecidos por eles. E tudo isso é influenciado pela cultura, conhecimento e diversas outras questões que você só tomará conhecimento no momento que definir para quem você está projetando.

Um exemplo:
Recentemente eu utilizei uma ferramenta muito legal de moodboard e achei super fácil de usar. Fiquei pensando porque, e aí me liguei que todos os atalhos eram muito parecidos com os que usamos nas ferramentas da Adobe ou Figma. Para vários designers, com certeza a ferramenta deve ser bem útil, mas para quem não é, provavelmente nem tanto.

E se isso tem algum problema? Absolutamente nenhum, é uma escolha de público que você quer atingir. Eu adorei a ferramenta e falei dela para todo mundo!

O problema, na verdade, é tentar fazer todo mundo feliz. Sinceramente? Você não vai conseguir. Assim como não existe prioridade quando tudo é prioritário, não existe público-alvo se todo mundo é público-alvo.

Não deixe de pensar no “good fit”

Você pode estar se perguntando se isso quer dizer que ao adotar esse pensamento você deve deixar o restante das pessoas, aquelas que não se encaixam no seu público, fora do seu radar. Também não é assim.

Mesmo não sendo exatamente quem você almeja alcançar, outras pessoas podem ver valor no seu produto e começar a usá-lo. Lembra da ferramenta de moodboard? Eu já a vi sendo usada por um líder da área de produto. Nada a ver com o objetivo inicial e totalmente fora do perfil ideal de usuário da ferramenta.

Mas funciona. Não apenas porque dentro dessa pessoa havia um lado designer escondido, mas porque o produto ajudava os seus usuários a entenderem todas as suas funcionalidades da melhor maneira possível.

Ela dava dicas, templates prontos e enviava e-mails informativos. Esse tipo de proatividade não torna a ferramenta menos intuitiva para o público principal, mas auxilia outras pessoas a entender e utilizar suas soluções.

Mesmo sendo extremamente fácil para alguns, um bom produto deve ter interface auto explicativa. Isso pode ser feito com uso de labels em ícones e informações extras se necessário, fora um processo de onboarding bem organizado.

8 etapas para um UI intuitivo

No livro Intuitive Design: Eight Steps to an Intuitive UI (o qual indico muito a leitura), Everett McKay indica 8 etapas para ter um UI Design intuitivo.

  • Fácil descoberta: encontrar as features quando necessário. Ex: fazer com que as primeiros ações dentro do produto sejam óbvias.
  • Affordance: sugerir como executar uma ação. Ex: usar metáforas visuais, ter uma consistência no produto.
  • Compreensibilidade: significado, efeito ou ação dos elementos de uma interface serem entendidos. Ex: usar uma linguagem simples e ter termos específicos e bem explicados.
  • Feedback adequado: ter uma indicação de estado fácil de entender. Ex: mostrar mensagens de sucesso ou erro de uma ação.
  • Previsibilidade: prever resultados antes da ação, satisfazer expectativas. Ex: Consistência com o modelo mental do usuário.
  • Eficiência: sem interação ou repetições desnecessárias. Ex: agrupamento baseado no uso, padrões.
  • Prevenção: prever erros e poder se recuperar rapidamente deles. Ex: reduzir o impacto de possíveis erros.
  • Explorabilidade: uso de um produto sem medo de ficar perdido ou cometer erros. Ex: confirmar ações destrutivas

Se você ficou curioso, você pode ver mais sobre o livro aqui:

Espero que com esse texto torne discussões sobre design intuitivo mais objetivas e claras, principalmente entre times multidisciplinares!

Se gostou desse conteúdo de UX e quiser saber mais, que tal trocarmos ideias? :)

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Ana Steinbach
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Written by Ana Steinbach

Marketing and Design Manager | Brazil

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