Lean UX: conceitos e princípios (Resumo do livro — parte 1)

Ana Steinbach
9 min readDec 11, 2019

Esse artigo é um resumo dos principais conceitos do livro Lean UX.
Como o conteúdo é bastante extenso, essa primeira parte será sobre a explicação dos objetivos e princípios da metodologia enxuta.

Lembrando que esse artigo não representa as minhas opiniões pessoais sobre o assunto :) O propósito é fazer um compilado online do livro, falar sobre sua metodologia e abrir novas discussões!

Novos produtos digitais com promessas cada vez mais ambiciosas são lançados cada vez mais rápido. Por isso, um dos maiores diferencias que um serviço/produto pode ter é a experiência que ele oferece para o seu usuário.

Essa foi uma das razões para a popularização da disciplina de UX Design por todas as empresas de tecnologia. Porém, dentro de um ambiente de incertezas constantes como startups, essa metodologia por si só não é o bastante.

Essas empresas que acabaram de começar precisam de um modelo de aplicação de User Experience considerando o dia a dia das metodologias ágeis, de forma muito mais inovadora e com ainda menos desperdício de recursos.

E é isso que a metodologia Lean UX busca resolver.

Mas e o que é UX?

UX (do inglês User eXperience) é a Experiência do Usuário.

Geralmente é associado à área do design responsável por pensar em tudo que envolve a jornada de um cliente dentro de um produto ou serviço.

E como se aplica isso? Basicamente falando com o seu usuário real e ouvindo o que ele deseja ou precisa.

O que é a Lean UX?

A Lean UX é a forma mais enxuta e simples de colocar em prática o desenvolvimento de produtos com foco na experiência do usuário.

Com ela, o objetivo é descobrir como um novo produto ou serviço será usado, como irá se comportar e como iremos construí-lo. Tudo isso ao mesmo tempo.

Outro ponto importante é que nessa metodologia nada é feito com “eu-quipes”. Afinal nenhuma pessoa ou área tem todas as respostas ou sabe tudo sobre a empresa. Nesse modelo é preciso lembrar que a colaboração é o que torna os produtos melhores a cada novo ciclo de entrega.

Lean UX também é uma mudança de cultura. Uma lembrança de que precisamos ser mais humildes, aceitar nossos erros e aprender com eles — até porque continuamente perceberemos que nossas ideias não são tão boas quanto parecem.

Por que Lean UX é importante?

As ferramentas necessárias para criar novos produtos digitais tem ficado cada vez mais baratas. Além disso, graças a popularização das metodologias ágeis, times conseguem entregar novas features com ciclos cada vez mais curtos.

Com essa mudança de processo, as empresas lançam novidades constantemente, captando feedbacks do mercado, aprendendo com eles e gerando mais valor para seus clientes.

Isso torna a competição muito mais acirrada.

Não existe mais o luxo de esperar meses para lançar algo novo no mercado. Para continuarmos competitivos nesse cenário, precisamos nos atualizar sempre.

Por isso precisamos de uma metodologia que nos permita fazer entregas mais rápidas e melhores, com ciclos curtos e com times altamente capazes de trabalhar simultaneamente na mesma solução.

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Os fundamentos da Lean UX

Os fundamentos são importantes para você entender no que se baseia a metodologia lean e como descobrir outros métodos que podem ser mais efetivos para o seu modelo de negócio.

1. User Experience Design e Design Thinking

Apesar de a disciplina de UX englobar muitas áreas do design, como design de interação, arquitetura da informação, design gráfico, etc., o centro do UX é identificar as necessidades humanas — as necessidades dos usuários no sistema.

Já a metodologia do Design thinking é importante por ter uma visão mais holística, considerando as necessidades humanas e as ideias de um time multifuncional.

2. Agile

Os valores principais das metodologias ágeis são perfeitas para a Lean UX:

• Os indivíduos e suas interações acima de procedimentos e ferramentas
• O funcionamento do software acima de documentação abrangente;
• A colaboração com o cliente acima da negociação e contrato;
• A capacidade de resposta a mudanças acima de um plano preestabelecido.

3. Startup enxuta

Esse fundamento também não é nenhuma novidade. A startup enxuta foi o que baseou também o UX enxuto.

Como é explicado no livro da Startup Enxuta, a metodologia consiste em utilizar o ciclo “construir-medir-aprender” para minimizar riscos e ter um aprendizado constante.

Times constroem MVPs (produtos mínimos viáveis) e o lançam no mercado o mais rápido possível para aprenderem sobre o que funciona — e o que não funciona — com seu público, ao invés de esperar meses para algo ser desenvolvido e acabar não vendendo.

De forma geral, o processo da Startup enxuta reduz desperdícios através do aumento do contato com consumidores reais, evitando suposições incorretas assim que possível.

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Princípios da Lean UX

“Inspirada pela startup enxuta e desenvolvimento ágil, é a prática de trazer a verdadeira natureza de um produto à tona o mais rápido possível, de uma forma colaborativa e multifuncional.

Nós trabalhamos para construir um entendimento compartilhado do consumidor, suas necessidades, nossas soluções propostas e nossa definição de sucesso.

Nós priorizamos aprendizados através de entregas que vão construir evidências para as nossas decisões.”

Aplicação dos princípios enxutos:

1. Diminuir o desperdício do processo comum de UX

Nada além do que é necessário deve ser construído, desenhado ou desenvolvido para o time seguir em frente. Além de documentações mais simples, isso quer dizer também extinguir a construção de telas perfeitas, pixel por pixel, antes de qualquer validação com o usuário.

Pra isso vai ser necessário superar o sentimento óbvio de que a primeira entrega de design está ‘inacabada’ ou feia. Sabemos que a 1ª versão precisará de um bom tapa, então quanto mais rápido validarmos nossas ideias, mais rápido poderemos redesenhar as telas e features.

Até porque quando gastamos muito tempo com uma solução específica, mais difícil é desapegar daquilo que construímos.

2. Harmonizar nosso “sistema” de designers, desenvolvedores, PMs, etc no processo de design

O mindset do time deve ser baseado na experimentação. Ao invés de depender de um designer “herói”, que vai adivinhar do além a melhor solução, isso é feito através de experimentação rápida e baseada em dados.

Nessa metodologia, o papel do designer é de facilitador de todo esse processo, e não o único responsável.

Princípios para organizar times

1. Equipes multifuncionais

Monte times com pelo menos um representante de cada área que será impactada pelo produto.

Engenheiros de software, product managers, designers de interação, designers visuais, redatores, analista de marketing, etc. Para a Lean UX funcionar, você precisará de muita colaboração entre todas essas disciplinas.

Times diversos criam soluções melhores porque conseguem ver o problema de diversos pontos de vista. Também ajuda o time a trocar informações informalmente, gerando mais eficiência e menos o efeito “cascata” de desenvolvimento.

2. Times pequenos, dedicados e próximos (no máximo 10 pessoas)

Times reduzidos, dedicados a um único objetivo e fisicamente próximos aumenta a comunicação, o foco e a camaradagem.

A distância física é um dos maiores problemas da colaboração. Se o seu time trabalha remotamente, busque ferramentas online que podem te auxiliar em todas atividades, como videochamadas, documentos, arquivos de design online, etc.

3. Times autossuficientes e empoderados

Seu time não pode ter dependências externas.

Certifique que ele tenha as ferramentas e equipamentos necessários, além da permissão para resolver problemas e interagir com usuários diretamente.

4. Times focados em solução de problemas

Um time focado em resolução é aquele que tem como objetivo resolver um problema, e não apenas entregar uma feature.

Inclusive, esse empoderamento aumenta a confiança da equipe e a sua motivação para trabalhar.

Princípios para guiar cultura

1. Da dúvida para a certeza

Todas as suposições estão erradas até que se prove o contrário.
Validar todas as ideias de um projeto reduz consideravelmente o risco de perder tempo e esforço em algo que pode ser baseado em suposições ruins.

2. Resultados e não entregas

As novas funcionalidades de um produto são entregas da equipe, e não o resultado dela.

3. Removendo desperdícios

Retire tudo que não agrega valor na entrega final.
Isso quer dizer que qualquer coisa que não contribua com isso deve ser removido do processo do time. (Sim, documentações excessivamente detalhadas se enquadram nessa também).

4. Entendimento compartilhado

Quanto mais um time coletivamente entende o que está fazendo e o seu propósito, menos ele precisa debater o que deu errado e mais rápido ele focará em como solucionar o problema.

5. Sem rock stars, gurus ou ninjas

Ao invés de focar em colaboradores “estrelinhas”, Lean UX precisa de coesão e colaboração. Esse tipo de funcionário “camisa 10” geralmente não compartilha seus conhecimentos, e lidar com ego não pode ser um problema para o seu time.

6. Permissão para errar

A maioria das suas ideias vão dar errado.
Isso quer dizer que você precisa de uma cultura que permita errar de vez em quando em nome da experimentação. Experimentação é a chave para a criatividade, e a criatividade para soluções inovadoras.

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Princípios para guiar processos

1. Mini entregas para reduzir riscos

Não perca tempo criando backlogs gigantes de ideias já “solucionadas” e com telas prontas que nunca foram nem validadas com o usuário.
Se todo trabalho começa com uma suposição — e essa suposição pode estar errada — ter um inventário de ideias baseado nelas é o mesmo que jogar muito trabalho fora.

2. Descoberta contínua

Ter conversas contínuas com seu consumidor irá revelar oportunidades frequentes e novas ideias de produto.

3. Saia do escritório

Ao invés de tentar descobrir mais sobre o seu público dentro de uma sala de escritório, saia para conversar com ele.
Dê a oportunidade para seus potenciais clientes darem feedback nas suas ideias muito antes do que você está acostumado. É melhor saber que você está errado do que perder seu tempo com algo que ninguém quer.

No fim, quem decide o sucesso ou fracasso do seu produto não é o seu time — é o seu consumidor.

4. Externalizando o seu trabalho

Você precisa tirar as ideias da sua cabeça e do seu computador e deixá-las à mostra para outras pessoas.
Use quadros brancos, boards online ou post-its para expor seu trabalho para seus colegas.

5. Criar ao invés de analisar

Não perca tempo debatendo ideias dentro de uma sala, saia e valide suas ideias com o usuário.
Debater ideias sem dados do mercado é um desperdício de tempo. Ao invés de analisar potenciais cenários, tome uma atitude e busque a forma mais rápida possível de validar com usuários reais.

E aí, curtiu o conteúdo? Você pode continuar para a parte mais importante do livro: o processo da Lean UX :)

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